quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Capitu.

Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, "olhos de cigana oblíqua e dissimulada."
Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim.
Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...


Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram.


Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova.


Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.
(Machado de Assis)
 

 Seria blasfemar demais, dizer que talvez eu tenha um pouco de Capitu? São os mesmos olhos oblíquos e dissimulados; pena que ninguém me conheça tão bem assim pra concordar comigo.

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