sábado, 21 de maio de 2011

apenas se tiver tempo.

PEQUENO PRÍNCIPE
(trecho)

E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho que se voltou mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho.
Tu és bem bonita.
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o princípe, estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa.
Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- O que quer dizer cativar ?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa.
Significa criar laços...
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens necessidade de mim.
Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo
... Mas a raposa voltou a sua idéia:
- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música.
E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!
Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa.
Mas tu não a deves esquecer.

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"

(Antoine de Saint-Exupéry)

V O L T A N D O

Imóvel, bradipneica, sem saber o que falar. Levanto-me, vou até a cozinha buscar um pouco de água, e de repente estou no quarto arrastando uma coberta até a sala.O telefone não toca. Tentativas de fugir do que me aguarda. Falar de mim, escrever mais uma vez depois de tanto tempo, depois de tantas coisas que perdi, depois de tantas lágrimas e frustrações que deixei passar. Como começar?
De súbito uma última tentativa de levar ar aos pulmões, o controle voluntário de trazer a tona todas as coisas que me incomodam. Droga, já tinha esquecido como escrever me faz tão bem.
Porque mesmo que estou aqui? Meus pensamentos estão contra meu coração, meu cérebro não quer que eu enfraqueça de novo. Tudo esta(va) tão bem, tudo esta(va) sob controle. Porque é mesmo que você se aproxima de mim? O que mais você quer? Será que você ainda não percebeu que eu não quero mais ficar próxima a você? Será que eu ainda não percebi que não existe só você?

Perdi totalmente o foco, perdi totalmente a paz. Eu não devia ter te tocado, eu não devia ter deixado você entrar. Eu podia perder tanto tempo assim. E não foi pra falar de você que voltei aqui, afinal você já não faz mais parte do meu presente. Não sei se ainda você permanece na minha cabeça ou no meu coração. Aliás, não sei se você ainda faz parte de alguma coisa que se relacione a mim. Você mudou tanto, e eu nem te conheço mais.
 E não, eu não quero me casar com você.